Mundo bipolar

O mundo bipolar foi um ordenamento geopolítico marcado pela ascensão de duas potências políticas, econômicas e militares em escala global: Estados Unidos e União Soviética.

Mundo bipolar ilustrado pela fusão das bandeiras da União Soviética e dos Estados Unidos.
O mundo bipolar era composto por dois blocos geopolíticos, liderados pelos Estados Unidos e pela União Soviética.

Mundo bipolar foi o ordenamento geopolítico do espaço mundial vigente após o fim da Segunda Guerra Mundial (1936-1945), no período que ficou melhor conhecido como o da Guerra Fria. O mundo bipolar era caracterizado pela ascensão de duas potências que exerciam influência política, econômica e militar em escala mundial: os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Ambos disputaram a hegemonia global de forma direta e indireta, resultando na corrida armamentista e na corrida espacial do período, e na intervenção em países e conflitos regionais. Essa ordem mundial, agora citada como velha ordem mundial, chegou ao fim no ano de 1991, com a fragmentação da URSS e o advento de uma nova ordem mundial, baseada na multipolaridade.

Leia também: Segunda Guerra Mundial no Enem — tudo o que você precisa saber

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o mundo bipolar

  • O mundo bipolar foi o ordenamento geopolítico do espaço mundial em dois polos distintos, liderados por duas potências hegemônicas: Estados Unidos e União Soviética.

  • Originou-se após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com o advento da Guerra Fria e a divisão do mundo entre o bloco capitalista e o bloco socialista.

  • Foi caracterizado pela divisão do continente europeu entre Europa Ocidental e Europa Ocidental, pelas corridas armamentista e espacial, e pela maior intervenção política, militar e econômica das potências hegemônicas nos países periféricos, como na América Latina.

  • Alianças militares como a Otan e o Pacto de Varsóvia surgiram nesse período. Permanece em atuação, hoje, somente a primeira.

  • Chegou ao fim com a fragmentação da União Soviética, em 1991.

O que foi o mundo bipolar?

O mundo bipolar foi o ordenamento político e ideológico do espaço mundial em dois diferentes blocos liderados pelas duas superpotências geopolíticas e militares do período:

  • Bloco capitalista, que tinha à frente os Estados Unidos;

  • Bloco socialista, que tinha à frente a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Essa ordem mundial, que atualmente pode ser chamada de velha ordem mundial, se instalou após o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e perdurou até o desmantelamento da URSS no ano de 1991. Esse intervalo de tempo ficou conhecido como o período da Guerra Fria.

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Características do mundo bipolar

A ordem bipolar teve como característica mais importante a emergência de duas potências políticas, econômicas e, principalmente, militares que exerceram poder de influência e de centralidade sobre as demais nações do mundo, dividindo, assim, o espaço mundial em dois polos distintos. A partir disso é que a geopolítica do período passou a ser definida, e a grande maioria dos conflitos que ocorreram enquanto essa ordem estava vigente tinha como raiz as divergências ideológicas estabelecidas entre os dois polos mundiais e a sua disputa constante pela hegemonia internacional.

Como vimos, o mundo bipolar, que se instalou a partir da segunda metade do século XX, foi marcado pela emergência de duas potências mundiais:

  • Os Estados Unidos (EUA): país capitalista que apresentou crescimento econômico expressivo e constante durante e após a Segunda Guerra Mundial, tendo demonstrado seu poderio militar durante o conflito e seu grande poder hegemônico sobre as nações ocidentais. Após a guerra, os Estados Unidos ampliaram a sua influência no continente europeu, mediante a implementação do Plano Marshall, e também no continente asiático, com o Plano Colombo.

  • A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS): país socialista que se destacou pelo grande avanço econômico e industrial desde a sua formação e até mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, demonstrando ainda grande poderio militar. À URSS se uniram principalmente os países do Leste Europeu e de parte do continente asiático.

A disputa pela hegemonia entre essas duas potências aconteceu mais de maneira indireta do que de maneira direta, não havendo o registro de conflitos armados entre os dois países. Esse tipo de enfrentamento direto aconteceu entre os países que se alinhavam política e ideologicamente com um ou com o outro, obtendo o financiamento e apoio dessas potências durante as disputas. Os principais exemplos do tipo foram a Guerra da Coreia (1950-1953) e a Guerra do Vietnã (1955-1975).

Foi por meio da corrida armamentista e da corrida espacial que as potências hegemônicas do mundo bipolar buscaram se reafirmar no cenário internacional, demonstrando o poderio de seu arsenal militar, que passou a incluir armas de destruição em massa, como as bombas nucleares, e a sua capacidade de inovação científica e tecnológica, tendo como foco a exploração espacial.

Veja também: Guerra do Afeganistão (1979) — outro importante conflito do contexto da Guerra Fria

Origem do mundo bipolar

Representantes políticos dos EUA, URSS e Reino Unido em conferência que deu origem ao mundo bipolar.
Clement Attlee (Reino Unido), Harry Truman (EUA) e Joseph Stalin (URSS) com seus conselheiros, na Conferência de Postdam.

O mundo bipolar teve origem com o fim da Segunda Guerra Mundial, conflito que se estendeu de 1939 a 1945. Mais precisamente, a divisão do espaço mundial em dois blocos políticos distintos começou a se tornar evidente durante a Conferência de Postdam, realizada na Alemanha entre os meses de julho e agosto de 1945.

Durante essa reunião, ficou definida a divisão do território alemão em quatro áreas dominadas pelas seguintes nações:

  • União Soviética;

  • Estados Unidos;

  • França;

  • Inglaterra.

Os soviéticos passariam a controlar a parcela leste da Alemanha (Alemanha Oriental), incluindo a capital, Berlim; enquanto os demais países exerceriam controle sobre as terras a oeste (Alemanha Ocidental). Estabeleceu-se, assim, a divisão da Alemanha entre o mundo socialista e o mundo capitalista, materializada na construção do Muro de Berlim no ano de 1961.

Capitalismo x socialismo: a economia do mundo bipolar

O capitalismo e o socialismo foram os dois sistemas políticos e econômicos vigentes no mundo bipolar e que orientaram a Velha Ordem Mundial. Confira, a seguir, as principais diferenças entre eles.

  • Capitalismo: sistema econômico caracterizado pela defesa da propriedade privada dos meios de produção, pela prevalência da economia de livre mercado e pela geração de lucros, responsável pelo acúmulo de capitais e pela produção de riquezas. O bloco capitalista era liderado pelos Estados Unidos e, após o fim da Guerra Fria, tornou-se o sistema predominante no mundo. Para saber mais sobre esse sistema econômico, clique aqui.

  • Socialismo: sistema político e econômico que tem como objetivo a conquista de uma sociedade igualitária. Para isso, o socialismo defende a existência de um sistema econômico-produtivo centralizado no Estado (economia planificada) que é caracterizado pela socialização dos meios de produção e das riquezas produzidas pela classe trabalhadora. Caberia ao Estado, ainda, a garantia de todos os direitos básicos da população, construindo, assim, uma sociedade muito mais justa. O socialismo soviético, como era chamado, foi adotado pela URSS entre 1917 e 1991. Para saber mais sobre esse sistema econômico, clique aqui.

Quais foram as consequências do mundo bipolar?

O advento do mundo bipolar ocasionou uma série de transformações no ordenamento espacial e na organização da política e da economia internacionais.

 Placa em frente ao Muro de Berlim, construção que materializava o mundo bipolar.
“Você está saindo do setor americano”, diz a mensagem na placa colocada em frente ao Muro de Berlim, em 1988.[1]
  • Polarização do espaço mundial em dois núcleos, político e econômico, opostos.

  • Divisão do espaço geográfico europeu, entre Europa Oriental e Europa Ocidental, que se deu mediante uma linha imaginária apelidada de Cortina de Ferro.

  • Advento de acordos militares que apoiavam cada um dos blocos vigentes — a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e o Pacto de Varsóvia.

  • Ampliação da interferência externa promovida pelas potências hegemônicas nos países não alinhados, com o objetivo de ampliar a sua dominação e presença internacional.

  • Aumento das tensões acerca de um novo conflito armado em função da corrida armamentista e do aperfeiçoamento do armamento nuclear das potências mundiais.

  • Avanços tecnológicos nos sistemas de informação e de comunicação, com o advento de satélites com finalidades diversas, inclusive a espionagem militar, resultantes da corrida espacial.

Diferenças entre mundo bipolar, multipolar e unipolar

O que define a emergência de uma ordem geopolítica internacional, como a ordem multipolar vigente, é a existência de uma ou mais potências hegemônicas capazes de exercer influência militar, política e econômica sobre um grande conjunto de países. Nesse sentido, podemos estabelecer que:

  • Mundo bipolar: duas potências hegemônicas exercendo influência sobre o mundo. O principal exemplo é o da Guerra Fria, marcada pela presença dominante dos Estados Unidos e da União Soviética na geopolítica internacional.

  • Mundo multipolar: três ou mais potências hegemônicas exercendo influência sobre o mundo, formando uma série de polos de poder local e regional. É a ordem vigente no mundo atual, que emergiu após o fim da Guerra Fria.

  • Mundo unipolar: uma superpotência hegemônica que exerce influência sobre todo o mundo.

Vantagens e desvantagens do mundo bipolar

Vantagens do mundo bipolar

Desvantagens do mundo bipolar

Maior conhecimento acerca de quem são os seus adversários e os seus aliados políticos e econômicos.

São menores as possibilidades de alianças políticas, econômicas e militares.

É um sistema muito mais previsível.

É um sistema mais instável por conter somente dois centros econômicos e políticos nos quais se apoiar.

As discussões sobre a geopolítica internacional acontecem de forma clara e mais objetiva.

Há limitação quanto à participação dos países nas decisões geopolíticas, em especial quando se trata das nações menos desenvolvidas.

Instabilidades locais ou regionais fora das duas potências hegemônicas não afetam a ordem política e a economia mundial.

Instabilidades e crises nos países hegemônicos podem ser determinantes para a manutenção da ordem mundial, como aconteceu no fim da Guerra Fria.

Fim do mundo bipolar

O mundo bipolar chegou ao fim depois da intensificação da crise política e econômica na União Soviética, que se estendia desde a década de 1970, mas escalou a partir dos anos 1980. Um dos momentos mais representativos das mudanças que vinham acontecendo na geopolítica do período foi a queda do Muro de Berlim, em 1989. Dois anos mais tarde, em 1991, as últimas repúblicas que ainda faziam parte da URSS deixaram a União, marcando assim a desintegração do mundo soviético e o fim da ordem bipolar.

Saiba mais: Liberalismo x nacionalismo — projetos para a economia brasileira no mundo bipolar

Qual foi a posição do Brasil no mundo bipolar?

O Brasil, em um primeiro momento, procurou se manter relativamente independente das potências hegemônicas durante a Guerra Fria, embora o auxílio norte-americano durante a década de 1950 e o início da década de 1960 tenha sido importante para o desenvolvimento econômico e industrial do país, fruto da política externa do período.

Era sabido que os Estados Unidos procuraram ao máximo se impor sobre os países do Ocidente, notadamente na América Latina, para afastar quaisquer influências do regime soviético sobre o hemisfério. Por essa razão, a posição de isonomia da política externa brasileira não se sustentou por muito tempo. O golpe militar que aconteceu no Brasil em 31 de março de 1964, retirando do poder o então presidente eleito João Goulart (Jango), determinou a mudança da postura brasileira com relação à bipolaridade mundial.

A instalação da ditadura militar no país contou com um amplo apoio dos Estados Unidos, haja vista que o governo de Jango era pautado por ideais progressistas e reformas sociais e trabalhistas, que iam na contramão da política promovida pelos norte-americanos. Durante o período ditatorial (1964 -1985), portanto, o Brasil se alinhou aos Estados Unidos e ao bloco capitalista.

Exercícios resolvidos sobre o mundo bipolar

Questão 1

(UEL) Analise o mapa a seguir.

Mapa representando o mundo bipolar entre 1945 e 1990.

VESENTINI, J. W. O Ensino de Geografia e as Mudanças Recentes do Espaço Geográfico Mundial. São Paulo: Ática, 1992.

Como base no mapa e nos conhecimentos da geopolítica mundial no século XX, atribua V (verdadeiro) ou F (falso) às afirmativas a seguir:

( ) O término da Segunda Guerra Mundial inaugurou o período denominado Guerra Fria, marcado pelo confronto ideológico entre a URSS e os EUA, gerando diversos conflitos por disputas de territórios.

( ) Fidel Castro se aproximou do bloco socialista, do qual nasceu um plano que levou a uma das maiores crises políticas da Guerra Fria: o conflito entre a União Soviética e os Estados Unidos (1962), designado como a Crise dos Mísseis em Cuba.

( ) A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) é uma aliança militar fundada no princípio da segurança coletiva, com o objetivo de manter a paz entre os países-membros e a democracia dentro deles.

( ) A corrida armamentista constitui-se em uma característica secundária desse período, já que a questão central da geopolítica, pós-Segunda Guerra Mundial, foi a disseminação da organização espacial mundial multipolar.

( ) A designação de “fria” vinculou-se a um período geopolítico no qual se destacava a abstenção das superpotências nos conflitos militares nas áreas periféricas do mundo, de forma que os norte-americanos e os soviéticos se desvincularam de guerras localizadas em outras partes do mundo.

Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, a sequência correta.

a) V, V, V, F, F.

b) V, V, F, F, F.

c) V, F, F, V, V.

d) F, F, V, V, V.

e) F, F, F, V, V.

Resolução: Alternativa A. Somente as duas últimas afirmações são falsas. A corrida armamentista foi um dos principais aspectos que caracterizaram a Guerra Fria, travada entre as potências hegemônicas dos Estados Unidos e da URSS. Além disso, houve um aumento da intervenção dessas potências nos conflitos periféricos, a exemplo da Guerra do Vietnã e da Guerra da Coreia.

Questão 2

(Enem) Do ponto de vista geopolítico, a Guerra Fria dividiu a Europa em dois blocos. Essa divisão propiciou a formação de alianças antagônicas de caráter militar, como a Otan, que aglutinava os países do bloco ocidental, e o Pacto de Varsóvia, que concentrava os do bloco oriental. É importante destacar que, na formação da Otan, estão presentes, além dos países do oeste europeu, os EUA e o Canadá. Essa divisão histórica atingiu igualmente os âmbitos político e econômico, que se refletiam pela opção entre os modelos capitalista e socialista.

Essa divisão europeia ficou conhecida como:

a) Cortina de Ferro

b) Muro de Berlim

c) União Europeia

d) Convenção de Ramsar

e) Conferência de Estocolmo

Resolução: Alternativa A. A divisão do continente europeu em Europa Ocidental e Europa Oriental ficou conhecida como Cortina de Ferro, expressão cunhada pelo ex-primeiro ministro do Reino Unido Winston Churchill para designar os países integrantes do bloco soviético.

Créditos da imagem

[1] 360b/ Shutterstock

Fontes

LUCCI, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado, 2: ensino médio. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

MOREIRA, Igor. O espaço geográfico: geografia geral e do Brasil. 47. ed. 3. reimp. São Paulo: Ática, 2004.

Por: Paloma Guitarrara

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