Luís Gama

Luís Gama foi um negro livre que seguiu carreira como jornalista e como rábula e se tornou em um dos grandes abolicionistas do Brasil no século XIX.

Luís Gama foi um jornalista, escritor e rábula que ficou conhecido como um dos grandes abolicionistas do século XIX.[1]
Luís Gama foi um jornalista, escritor e rábula que ficou conhecido como um dos grandes abolicionistas do século XIX.[1]

Luís Gama foi um jornalista, escritor e rábula do século XIX que ficou conhecido por sua luta pela causa abolicionista. Nascido livre, Luís Gama foi vendido como escravo na infância e recuperou sua liberdade na adolescência. Foi autodidata e teve importante atuação na defesa de escravizados nos tribunais brasileiros.

Acesse também: Lei do Ventre Livre, a lei que libertou os filhos das escravizadas a partir de 1871

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Luís Gama

  • Luís Gama nasceu em Salvador e era filho de um homem branco e uma mulher negra.

  • Foi vendido pelo próprio pai como escravo aos 10 anos, e, aos 17 anos, reconquistou sua liberdade.

  • Alfabetizou-se e tornou-se um renomado jornalista e rábula.

  • Foi um dos maiores defensores do fim da escravização de negros no Brasil.

  • Faleceu em 1882, vítima de diabetes.

Nascimento de Luís Gama

Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu na cidade de Salvador, no estado da Bahia, em 21 de junho de 1830. Mais conhecido como Luís Gama, ele era filho de um fidalgo de descendência portuguesa e que pertencia a uma das famílias mais tradicionais da Bahia. Luís Gama não deixou registros sobre o nome de seu pai, e nunca foram encontrados documentos que nos permitam saber essa informação.

Quanto à sua mãe, Gama afirmou que ela era uma negra africana livre, originária de Costa da Mina e que sobrevivia em Salvador como quitandeira. Luís Gama deixou um registro que afirma que ela se chamava Luísa Mahin e que ela teria se envolvido com a Revolta dos Malês e com a Sabinada, o que a forçou a fugir para o Rio de Janeiro.

Essas informações foram registradas, pelo próprio Luís Gama, em um relato autobiográfico que ele escreveu em uma carta enviada em 1880. No caso da sua mãe, os historiadores levantam alguns questionamentos, apontando que tal relato pode ser levemente mitificado, uma vez que não existem evidências sobre a história dela.

O que sabemos de fato é que o pai de Luís Gama decidiu vender seu filho como escravo. Como mencionado, ele era um homem negro, filho de um branco e de uma negra. Aos 10 anos, ele foi vendido como escravo porque seu pai viu nessa ação uma forma de obter dinheiro para pagar suas dívidas, contraídas em jogos de azar.

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Como Luís Gama conquistou sua liberdade?

Após ser vendido como escravo, Luís Gama foi enviado primeiro para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo. O fato de ele ser baiano impediu que fosse vendido outra vez, pois os negros baianos eram vistos como insubordinados por causa da repercussão da Revolta dos Malês. Ele foi mantido nessa condição de escravizado até os 17 anos.

Aos 17 anos, Gama reconquistou a sua liberdade, e os historiadores não sabem exatamente como isso se deu. Alguns relatos contam que ele conseguiu provar que tinha nascido de uma negra livre. Até esse momento, Luís Gama era um homem analfabeto, mas logo deu início a sua alfabetização.

Em seu relato autobiográfico, ele afirma que começou a aprender a ler e a escrever quando seu “dono”, o alferes Antônio Pereira Cardoso, começou a alfabetizá-lo. Depois de aprender a ler e a escrever, ele conseguiu juntar provas para garantir sua liberdade, e o fez depois de fugir de seu cativeiro.

Vida adulta de Luís Gama

Depois de fugir, Luís Gama seguiu sua vida brilhantemente, tornando-se um renomado jornalista, um prolífico escritor, e também seguiu carreira na advocacia ao tornar-se um rábula (advogado sem formação) autodidata. Embora seu primeiro ofício, após reconquistar a sua liberdade, tenha sido como militar.

Ele se alistou como praça e serviu por seis anos, mas deu baixa no serviço, em 1854, por ato de insubordinação. Luís Gama relatou que isso aconteceu porque ele respondeu um superior que havia lhe ofendido. Por conta disso, foi preso por 39 dias e expulso da corporação.

Nesse período em que serviu como praça, ele também trabalhou como copista, e historiadores afirmam que essa experiência marcou o início do seu aprendizado como jurista. Entre 1856 e 1868, ele trabalhou na Secretária de Polícia, e afirmou que foi demitido quando os conservadores subiram ao poder.

Acesse também: Movimento abolicionista: popular ou de elite?

Luís Gama como abolicionista

Luís Gama foi reconhecido como um dos grandes abolicionistas do Brasil no final do século XIX, e usou de suas posições para defender a causa. Enquanto jornalista, ele usou dos espaços a que tinha acesso para defender que a escravidão era uma instituição absurda, e, enquanto rábula, ele ofereceu os seus serviços para que negros escravizados conquistassem a sua liberdade.

Além de abolicionista, Luís Gama era defensor da causa republicana, e essas posições foram defendidas por ele em toda a sua vida. Como jornalista, Gama escreveu para diferentes jornais, como Diabo Coxo, Correio Paulista, Radical Paulistano, entre outros, sempre sustentando suas posições contra a escravidão. O trabalho de jornalista era o seu principal ofício, e ele exerceu funções de redator e tipógrafo.

A historiadora Wlamyra Albuquerque sustenta que Luís Gama afirmava que “a escravidão era um roubo, por estar assentada numa transação ilegal”, e ainda defende que ele foi “incisivo, […], na exposição de como a escravidão e o racismo se entrelaçavam na cultura oitocentista”|1|. Além disso, ele utilizava os espaços nesses jornais para oferecer seus serviços de rábula.

Como rábula, Luís Gama atuou de maneira consistente na Justiça brasileira com o objetivo de garantir a liberdade de negros escravizados. Valia-se, principalmente, de uma lei de 1831 que considerava proibido o tráfico negreiro no Brasil. Essa lei nunca foi respeitada, mas serviu de brecha para que ele conseguisse a liberdade de centenas de negros.

O argumento explorado por Gama era de que, se o tráfico era proibido desde 1831, todo africano trazido ao Brasil depois dessa lei havia sido introduzido aqui ilegalmente. Assim, conseguindo provar isso, ele garantia a liberdade de seus clientes. Ele próprio afirmou, em seu relato autobiográfico, que havia conquistado a liberdade de mais de 500 pessoas.

No final da década de 1860, Luís Gama deu entrada em um de seus casos mais famosos. Nesse caso, ele entrou na Justiça como representante de 217 escravizados que haviam sido libertos por seu falecido “dono” (comendador Ferreira Netto) em testamento. Os herdeiros do comendador não quiseram dar a liberdade a eles, o que deu início à querela judicial.

Em 1872, a última instância desse julgamento decidiu que os cativos deveriam ser libertos pela família até 1878. Apesar da vitória, Gama entendeu a sentença como uma derrota, uma vez que ele desejava que os 217 obtivessem a sua liberdade imediatamente. Em 1878, apenas 130 dos 217 escravizados ainda estavam vivos para gozar de sua liberdade.

O trabalho que ele fazia como rábula, muitas vezes, era voluntário, e justificava isso dizendo: “Eu advogo de graça, por dedicação sincera à causa dos desgraçados; não pretendo lucros, não temo represálias”|2|. Sua dedicação à causa abolicionista fez dele um homem de influência e bastante respeitado.

Leia mais: Fugas de escravizados no Brasil Colonial - uma de suas principais formas de resistência

Morte de Luís Gama

Luís Gama era diabético, e, nos últimos anos de sua vida, a sua saúde já não ia muito bem. A diabetes levou-o a falecer no dia 24 de agosto de 1882, e seu funeral ganhou destaque pela quantidade de pessoas que foram prestar-lhe a última homenagem. Quando morreu, Luís Gama tinha uma esposa, Claudina Gama, e um filho, Benedito Gama.

Frases de Luís Gama

  • “Eu advogo de graça por dedicação sincera à causa dos desgraçados. Não pretendo lucros. Não temo represálias.”

  • “Oh! Eu tenho lances doridos em minha vida, que valem mais do que as lendas sentidas da vida amargurada dos mártires.”

  • “Faço versos, não vate, digo muito disparate. Mas só rendo obediência à virtude, à inteligência […].”

|1| ALBUQUERQUE, Wlamyra. Movimentos sociais abolicionistas. In.: SCHWARCZ, Lilia Moritz e GOMES, Flávio dos Santos. Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 329.

|2| Luís Gama. Para acessar, clique aqui.

Créditos da imagem

[1] Commons

Por: Daniel Neves Silva

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