Funções de Linguagem

São demarcadas  mediante a intencionalidade discursiva
São demarcadas mediante a intencionalidade discursiva

Um dos aspectos ao qual fazemos expressiva referência, em se tratando da linguagem, é que ela desempenha uma função, única e exclusivamente  social. Fato este que nos leva a crer que as figuras envolvidas neste processo, representadas pelos interlocutores, nunca atuam como personagens solitários, ou seja, sempre estão dialogando com alguém a respeito de algo.  

E por assim dizer, esse “algo” tem muito a nos revelar, uma vez que toda e qualquer interação verbal se constitui de uma finalidade discursiva, ou seja, toda comunicação é dotada de um propósito específico. Outro aspecto, também de igual importância, é que esta comunicação não subsiste sem que haja a participação de determinados elementos, representados pelo emissor (a pessoa que emite), receptor (quem a recebe), mensagem (constituída pelo discurso propriamente dito), código (representado pelo sistema de sinais os quais permitem que a mensagem seja efetivamente transmitida – no caso, a língua portuguesa), canal (dispositivo pelo qual ela é transmitida – podendo ser por meio eletrônico, livros, jornais, músicas, entre outros) e o referente (o qual compreende o assunto ou o contexto da mensagem).

Dessa forma, de acordo com as intenções, uma vez ressaltadas,  a linguagem pode apresentar algumas variações e, consequentemente assumir funções distintas – abordadas de forma minuciosa a seguir. Para tanto, analisemos:

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Função expressiva ou também denominada de emotiva

Ocorre quando o emissor deseja revelar seu estado de espírito, suas emoções, demarcadas por um singular traço de subjetividade. Como bem nos demonstra o exemplo subsequente:

Pela luz dos olhos teus

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

                                                        Vinícius de Moraes


Função apelativa

Manifesta-se quando a intenção do emissor é persuadir o receptor a obter um determinado comportamento. Como casos representativos citamos os anúncios publicitários de forma geral, que na maioria das vezes se constituem de verbos expressos no modo imperativo, assim representado:

Função referencial

Caracteriza-se pelo desejo de traduzir a realidade, informar, expressa pelo emissor. Neste caso, referimo-nos às notícias jornalísticas e aos textos científicos de forma geral. Como bem nos revel o exemplo a seguir:

Pesquisadores dos EUA descobrem possível 'cura' para diabetes tipo 1
Desativação de hormônio dispensaria injeções de insulina, dizem cientistas.
Testes pré-clínicos foram feitos em camundongos.

Uma equipe do Centro Médico da Universidade do Sudoeste do Texas, nos Estados Unidos, sugere que a desativação de um hormônio pode ser suficiente para tratar diabetes tipo 1, uma doença autoimune - na qual o sistema de defesa ataca as células e tecidos do próprio corpo -, que faz as concentrações de açúcar no organismo ficarem muito altas. A descoberta será tema de edição de fevereiro da revista especializada "Diabetes".

Liderados por Roger Unger, professor da instituição e principal autor do artigo científico, os pesquisadores testaram a capacidade de camundongos, cobaias comuns em testes pré-clínicos, aproveitarem o açúcar presente no sangue, fruto da alimentação dos animais.

O truque foi alterar geneticamente os roedores para que produzissem quantidades menores de uma substância conhecida como glucagon, responsável por impedir que os níveis de glicose (açúcar) fiquem muito baixos.

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No caso dos diabéticos, essa ação do glucagon faz os níveis de glicemia aumentarem muito. Esse efeito seria compensado em pessoas saudáveis pela ação da insulina, responsável por permitir que o açúcar penetre nas células do corpo. Dentro delas, a glicose poderia ser imediatamente aproveitada para gerar energia ou armazenada. Mas para os pacientes com diabetes tipo 1, a produção de insulina não existe ou é seriamente comprometida.

Mas os pesquisadores norte-americanos acreditam que os resultados obtidos com os camundongos apontem que, caso os níveis de glucagon consigam ser controlados, a insulina se torna supérflua, já que os níveis de glicemia estariam normais, dispensando as injeções da substância para equilibrar a "balança" do açúcar no sangue.

Batalha de hormônios
A insulina deixa de existir em pacientes com diabetes tipo 1 pois o sistema de defesa do corpo ataca 90% ou mais das células beta, estruturas localizadas em uma região do pâncreas conhecida como Ilhotas de Langerhans. Com a ausência da insulina, os níveis de glicemia no sangue não abaixam e não há ação para impedir a influência do glucagon.

O "padrão ouro" de tratamento da doença é por meio de injeções de insulina, desde a descoberta da doença, em 1922. Os pacientes precisam receber as doses da substância durante boa parte da vida. No universo de todas as formas de diabetes, o tipo 1 responde por 10% dos casos e a maior parte das pessoas com o desenvolve antes dos 30 anos.

Fonte: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/01/pesquisadores-dos-eua-descobrem-possivel-cura-para-diabetes-tipo-1.htm

Função fática

Revela-se pela intenção do emissor em apenas manter ou prologar o contato com o receptor. Nesta modalidade é comum nos depararmos com discursos materializados por:

- Alô, bom dia!
- Bom dia!
-Como vai você?
-Bem obrigado (a). E você? 
[...]

Função metalinguística

É manifestada quando o emissor se utiliza do código para explicar o próprio código. A título de representação, analisemos as palavras expressa por João Cabral de Melo Neto:

Catar feijão
1.
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.

Constatamos, portanto, que o autor fala sobre o ato de escrever utilizando-se do próprio discurso descrito pela arte poética.

Função poética

Ocorre quando o emissor dá ênfase à elaboração da mensagem, construindo seu discurso de forma elaborada, atendo-se  tão somente a uma perfeita combinação harmoniosa das palavras. É o que podemos constatar em:

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

                                                     Luís de Camões


Aproveite para conferir nossas videoaulas relacionadas ao assunto:

Por: Vânia Maria do Nascimento Duarte

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