Trovadorismo

O trovadorismo é um estilo de época que surgiu na Europa durante a Idade Média. Ele é composto pelas cantigas trovadorescas de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer.

Alaúde próximo a livros antigos representando a ideia do trovadorismo.
O trovadorismo mistura música com literatura.

Trovadorismo é um estilo de época medieval. Ele é composto pelas cantigas de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer. Nas cantigas de amor, o trovador expressa seu sofrimento, causado por um amor não correspondido. Nas cantigas de amigo, uma mulher se mostra saudosa pela ausência de seu amigo, que seria um amante ou namorado.

Além dessas cantigas líricas, também foram produzidas, na Idade Média, cantigas satíricas. Assim, as cantigas de escárnio fazem crítica a uma pessoa ou situação, mas de maneira menos explícita. Já as cantigas de maldizer apontam o nome da pessoa criticada e, às vezes, usam inclusive palavrões.

Leia também: Humanismo — o movimento de transição entre o trovadorismo e o classicismo

Tópicos deste artigo

Resumo sobre trovadorismo

  • O trovadorismo é um estilo de época medieval que surgiu no século XIX.

  • Entre os autores do trovadorismo estão Arnaut Daniel, Dom Afonso X, Dom Dinis e Martim Codax.

  • As cantigas trovadorescas fazem parte do trovadorismo e podem ser líricas (de amor e de amigo) ou satíricas (de escárnio e de maldizer).

  • As cantigas de amor expressam o sofrimento amoroso do trovador.

  • As cantigas de amigo mostram a saudade do eu lírico, que é feminino.

  • As cantigas de escárnio fazem uma crítica de forma mais sutil.

  • As cantigas de maldizer explicitam o alvo da crítica do trovador.

  • Os cancioneiros são conjuntos de textos medievais produzidos em Portugal.

  • O trovadorismo surgiu no contexto teocêntrico da Idade Média, momento em que também aconteciam as Cruzadas e existia o Tribunal do Santo Ofício.

Videoaula sobre trovadorismo

Quais são as características do trovadorismo?

O trovadorismo é um estilo de época medieval. Ele surgiu na Europa, no século XII, e é formado por cantigas líricas (de amor e de amigo) e satíricas (de escárnio e de maldizer). Cada uma dessas cantigas possui características específicas e compõem, assim, a poesia trovadoresca ou provençal.

Essa poesia era feita pelos trovadores para ser cantada pelos jograis e tocadas pelos menestréis. Enquanto os trovadores eram nobres, os jograis e os menestréis eram ambulantes e, contratados pelo senhor feudal, tinham a função de divertir a corte do senhor feudal.

Ilustração de uma pessoa tocando um alaúde, um dos instrumentos usados mo trovadorismo.
No trovadorismo, os instrumentos acompanhavam a poesia cantada.

A poesia trovadoresca era, portanto, parte de uma literatura oral, que foi compilada, mais tarde, para integrar os chamados cancioneiros portugueses. As cantigas registraram, assim, o amor cortês da Idade Média, a crítica de costumes, bem como a subordinação da humanidade a Deus, devido ao teocentrismo que predominava na época.

Trovadorismo em Portugal

A “Cantiga da Ribeirinha”, de Paio Soares de Taveirós, é o texto literário mais antigo de Portugal. Essa cantiga é do ano de 1198, sendo que a criação de Portugal ocorreu em 1140. Portanto, o trovadorismo português coincide com o surgimento da literatura portuguesa.

Autores do trovadorismo em Portugal

Os principais autores do trovadorismo português são:

  • Afonso Gomes

  • Afonso Pais de Braga

  • Airas Nunes

  • Bernal de Bonaval

  • D. Dinis

  • Estêvão Faião

  • Fernão Velho

  • Gil Peres Conde

  • João Zorro

  • Martim Soares

  • Nuno Porco

  • Pero Guterres

  • Rui Queimado

  • Vasco Gil

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Principais autores do trovadorismo

Os principais autores do trovadorismo são:

  • Arnaut Daniel (século XI) — França.

  • Guilhem de Peitieu (1071-1126) — França.

  • Bernart de Ventadorn (1130-1200) — França.

  • Raimbaut d’Aurenga (1147-1173) — França.

  • Dom Afonso X (1221-1284) — Espanha.

  • Dom Dinis (1261-1325) — Portugal.

  • Fernão Rodrigues de Calheiros (século XIII) — Portugal.

  • João Garcia de Guilhade (século XIII) — Portugal.

  • Martim Codax (século XIII) — Galiza.

  • Nuno Fernandes Torneol (século XIII) — Galiza.

  • Paio Gomes Charinho (século XIII) — Galiza.

  • Paio Soares de Taveirós (século XIII) — Galiza.

  • Pero Gonçalves Portocarreiro (século XIII) — Portugal.

Cantigas trovadorescas

As cantigas trovadorescas são divididas em cantigas líricas (de amor e de amigo) e cantigas satíricas (de escárnio e de maldizer). A seguir, veremos sobre cada uma delas.

Cantigas líricas

As cantigas líricas são cantigas que se caracterizam pela manifestação dos sentimentos, geralmente amorosos. Existem dois tipos de cantigas líricas: de amor e de amigo.

Cantiga de amor

A temática é o amor não correspondido. Assim, o trovador sofre pelo desinteresse da dama, uma mulher idealizada, integrante da nobreza. Ela é vista como “dona” e “senhora” do eu lírico, e seu nome nunca é mencionado. Já o trovador se autodenomina um “coitado” e “sofredor”.

Nesse tipo de cantiga, portanto, ocorre a vassalagem amorosa, isto é, uma relação de poder da dama (suserana) sobre o trovador (vassalo). Normalmente, os verbos são de sete sílabas (redondilha maior). É comum que as cantigas de amor apresentem refrão, o que demonstra seu caráter popular.

  • Exemplo de cantiga de amor:

Observe este exemplo de cantiga de amor, escrita por Bernal de Bonaval:

A Bonaval quer’eu, mia senhor, ir
e des quand’eu ora de vós partir
os meus olhos nom dormirám.

Ir-m’-ei, pero m’é grave de fazer;
e des quand’eu ora de vós tolher
os meus olhos nom dormirám.

Todavia bem será de provar
de m’ir; mais des quand’eu de vós quitar
os meus olhos nom dormirám.|1|

Nessa cantiga, também escrita em galego-português, o eu lírico diz à sua “senhora” que ele quer ir a Bonaval. E assim que se afastar dela, os olhos dele não dormirão. Ele vai partir, apesar de ser doloroso. Afirma que vai ser bom experimentar partir; mas, a partir do momento que isso acontecer, os olhos dele não dormirão.

Cantiga de amigo

A temática é a saudade. Nesse caso, ocorre a sugestão de que os amantes já tiveram relações sexuais. O eu lírico é uma mulher do campo, que manifesta a saudade pela ausência do “amigo”. A mulher saudosa, além do “amigo”, pode ter outros interlocutores, como uma amiga ou irmã. Esse tipo de cantiga apresenta refrão, e os versos costumam ser de cinco sílabas (redondilha menor).

  • Exemplo de cantiga de amigo:

Veja um exemplo de cantiga de amigo, da autoria de João de Requeixo:

A Faro um dia irei, madre, se vos prouguer,
rogar se verria meu amigo, que mi bem quer,
e direi-lh’eu entom
a coita do meu coraçom.

Muito per desej’eu que vesse meu amigo
que m’estas penas deu e que falasse comigo,
e direi-lh’eu entom
a coita do meu coraçom.

Se s’el nembrar quiser como fiquei namorada,
e se cedo ver e o vir eu, bem talhada,
e direi-lh’eu entom
a coita do meu coraçom.|2|

Na cantiga, o eu lírico é feminino. Ela diz que, se a mãe deixar, um dia vai a Faro para rogar a volta do “amigo”. Ela deseja muito ver o amigo que causa sofrimento em seu coração e que ele fale com ela. Se ele quiser se lembrar de como ela ficou apaixonada, e ela, elegante, o vir em breve, vai lhe contar então do sofrimento de seu coração.

Cantigas satíricas

As cantigas satíricas são cantigas que se caracterizam pelas críticas sociais e críticas diretas a determinadas pessoas. Existem dois tipos de cantigas satíricas: de escárnio e de maldizer.

Cantiga de escárnio

Tais cantigas fazem críticas sociais, mas de forma mais sutil. Assim, não há identificação explícita da pessoa alvo das críticas. O texto, portanto, é irônico, utiliza trocadilhos e termos de duplo sentido.

  • Exemplo de cantiga de escárnio:

Veja um exemplo de cantiga de escárnio, composta por Lopo Lias:

A dona de Bagüin
que mora no Soveral,
dez e seis soldos há de mi;
e dei-lhos eu por preit’atal:
que mi os ar desse,
ond’al nom fezesse,
senom que vesse
falar mig’em cas Dom Corral.

Sabem em Morraz’e Salnês
meu preit’e seu; e nom lhis pês
que há de mim, mais há d’um mês,
um sold’e dous e dez e três;
e demais dizia
que ao tercer dia
mi os ar daria
em cas Dom Corral, o burguês|3|

Nessa cantiga, escrita em galego-português, o eu lírico critica uma tal “dona de Bagüin”, sendo Bagüin um lugar perto da região espanhola da Galiza. Portanto, ele não diz o nome da mulher. Ela deve dinheiro ao eu lírico. Na segunda estrofe, ele diz que a dívida já chega a um mês, e que a mulher tinha prometido devolver o dinheiro em três dias, na casa de Dom Corral, o que não aconteceu.

Cantiga de maldizer

Esse tipo de cantiga se diferencia das cantigas de escárnio por abrir mão da sutileza. Portanto, a crítica é explícita, de forma que o nome da pessoa satirizada é revelado. É comum o uso de uma linguagem agressiva, às vezes com presença de palavras de baixo calão.

  • Exemplo de cantiga de maldizer:

Agora, um exemplo de cantiga de maldizer, também composta por Lopo Lias:

A Dona Maria há soidade...
a Dona Maria há soidade...
ca perdeu aquel jograr [...]
dizendo del bem; e el nom achou
que nẽum preito del fosse mover,
nem bem nem mal, e triste se tornou.|4|

Esse fragmento é a única coisa que sobrou dessa cantiga. Porém, é sabido que a tal “Dona Maria” era uma mulher adúltera e amante de um tal Franco. O trecho diz que ela perdeu certo jogral, provavelmente seu amante Franco. Ela entendeu que não conseguiria nada dele, e ficou triste.

O que são os cancioneiros?

 Ilustração localizada no fólio 60 do Cancioneiro da Ajuda, um dos conjuntos de textos do trovadorismo português.
 Ilustração do Cancioneiro da Ajuda, um conjunto de cantigas de amor.

Os cancioneiros são conjuntos de textos do período medieval português:

  • Cancioneiro da Ajuda: cantigas de amor.

  • Cancioneiro da Vaticana: cantigas de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer.

  • Cancioneiro da Biblioteca Nacional: cantigas de trovadores galego-portugueses e a obra Arte de trovar.

Contexto histórico do trovadorismo

A poesia trovadoresca foi produzida durante a Idade Média (476-1453). Nesse período histórico, a Europa foi tomada pelo teocentrismo. Isso porque a Igreja Católica exercia grande poder político e econômico. Nessa sociedade, o clero e a nobreza possuíam total domínio sobre o povo, que era, em maioria, analfabeto.

A popularidade das cantigas assim se justifica, já que não exigiam a capacidade de leitura do receptor. O trovador, nesse contexto, tinha o foco das atenções. E possuía a função de entreter, divertir, não só a nobreza, mas também o povo sofrido. Não podemos esquecer que a Europa abrigava uma violenta guerra santa entre cristãos e muçulmanos.

Além das Cruzadas, também havia o Tribunal do Santo Ofício, que torturava e condenava aqueles que se opunham à Igreja, seja por meio de ideias ou ações consideradas pecaminosas. Nesse contexto, uma literatura mais crítica e livre era impossível. Ainda assim, as cantigas satíricas mostravam certa ousadia dos trovadores.

Veja também: Feudalismo — a organização social, econômica e política que vigorou na Europa durante a Idade Média

Exercícios resolvidos sobre trovadorismo

Questão 1

Leia esta versão de uma cantiga de Pero de Ver:

A Santa Maria fiz ir meu amigo
e não cumpri o que combinou comigo:
com ele me perdi
porque lhe menti.

Fiz ir meu amigo a Santa Maria
e não fui eu aí com ele aquele dia:
com ele me perdi
porque lhe menti.

PROJETO Littera. Cantigas medievais galego-portuguesas: Pero de Ver. Disponível em: <https://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1146&pv=sim>. Acesso em: 23 jan. 2023. [Adaptada.]

Depois de analisá-la, é possível dizer que Pero de Ver fez uma:

A) cantiga de amor.

B) cantiga de amigo.

C) cantiga de escárnio.

D) cantiga de maldizer.

E) cantiga satírica.

Resolução:

Alternativa B

Nessa cantiga, o eu lírico fala de um amigo distante, que foi a Santa Maria.

Questão 2

Leia a seguinte versão de uma cantiga de D. Dinis:

Ai senhora formosa! por Deus
e por quão boa Ele vos fez
compadecei-vos alguma vez
de mim e destes olhos meus
que vos viram por mal de si,
quando vos viram, e por mi[m].

E porque vos fez Deus melhor
de quantas fez e mais valer,
querei-vos de mim doer,
e destes meus olhos, senhor[a],
que vos viram por mal de si,
quando vos viram, e por mi[m].

E porque tudo nenhum valor tem,
senão o bem que Deus vos deu,
querei-vos doer do meu
mal e dos meus olhos, meu bem,
que vos viram por mal de si,
quando vos viram, e por mi[m].

PROJETO Littera. Cantigas medievais galego-portuguesas: D. Dinis. Disponível em: <https://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=542&pv=sim>. Acesso em: 23 jan. 2023. [Adaptada.]

A respeito dessa cantiga de D. Dinis, é correto afirmar que ela:

A) é uma cantiga de amor, pois sugere o sofrimento amoroso do eu lírico.

B) é uma cantiga de amigo, pois sugere o distanciamento do amigo.

C) é uma cantiga de escárnio, pois contém uma crítica implícita à dama.

D) é uma cantiga de maldizer, pois contém uma crítica explícita à dama.

E) é uma poesia palaciana, pois apresenta um amor menos idealizado.

Resolução:

Alternativa A

O sofrimento amoroso do eu lírico é sugerido nestes trechos: “compadecei-vos alguma vez/ de mim e destes olhos meus/ que vos viram por mal de si”, “querei-vos de mim doer,/ e destes meus olhos, senhor[a]”, “querei-vos doer do meu/ mal e dos meus olhos, meu bem”.

Notas

|1| PROJETO Littera. Cantigas medievais galego-portuguesas: Bernal de Bonaval. Disponível aqui.

|2| PROJETO Littera. Cantigas medievais galego-portuguesas: João de Requeixo. Disponível aqui.

|3| PROJETO Littera. Cantigas medievais galego-portuguesas: Lopo Dias. Disponível aqui.

|4| PROJETO Littera. Cantigas medievais galego-portuguesas: Lopo Dias. Disponível aqui.

Por: Warley Souza

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