Uso das reticências como recurso estilístico

O uso das reticências, muitas vezes, restringe-se a um caráter de ordem estilística
O uso das reticências, muitas vezes, restringe-se a um caráter de ordem estilística

As reticências se caracterizam como um sinal de pontuação, sobretudo demarcado na linguagem escrita, cujo principal atributo é representar aqueles indicadores discursivos manifestados na oralidade. Pois bem, pensemos um pouco adiante, mesmo porque o objetivo do artigo em questão se pauta por algumas abordagens que vão além do uso convencional, digamos assim.

Esse ir além se define pelo fato de que o uso das reticências, em se tratando da finalidade discursiva que se deseja obter, possui valor estilístico, ou seja, refere-se àquele valor conferido ao ato enunciativo, sobretudo no que diz respeito ao caráter enfático da mensagem.

Na literatura propriamente dita, temos uma passagem na obra clássica machadiana, Memórias póstumas de Brás Cubas, em que se evidenciam os seguintes fatos:

Capítulo LV - O Velho Diálogo de Adão e Eva

Brás Cubas . . . . . ?

Virgília . . . . . .

Brás Cubas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Virgília . . . . . . !

Brás Cubas . . . . . . .

Virgília . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Brás Cubas . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Virgília . . . . . . .

Brás Cubas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ! . . . . . . . . !

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . !

Virgília . . . . . . . . . . . . . . . . . ?

Brás Cubas . . . . . . . !

Virgília . . . . . . . !

Fazendo referência a tal sinal, cabe ressaltar que a subjetividade se apresenta como marca constante da linguagem literária, por isso fica a cargo do leitor, reflexivo e atento, atribuir a tal intenção enunciativa o valor que lhe for mais conveniente.

Outro renomado autor, que também fez uso desse recurso, foi Mário Quintana, em seu poema:

Da Discrição

Não te abras com teu amigo

Que ele um outro amigo tem.

E o amigo do teu amigo

Possui amigos também... 

Com base nele não se torna muito difícil prever o que “vem depois”, haja vista que fica claro que o interlocutor pode espalhar o que ouvira. Razão pela qual todo cuidado é pouco, não é verdade?

Por: Vânia Maria do Nascimento Duarte

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