Cotidiano nas Trincheiras

A terrível rotina dos soldados nas trincheiras durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
A terrível rotina dos soldados nas trincheiras durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

Durante os conflitos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), tanto soldados como seus familiares, como a imprensa e os governos de vários países acharam que a guerra seria rápida, acreditavam que os soldados estariam de volta a suas casas o mais breve possível. Ledo engano! A guerra rápida que estavam esperando durou aproximadamente cinco anos, de 1914 a 1918.

Logo no início da guerra os exércitos alemães planejavam executar o Plano Schlieffen (tomada da Bélgica, fugindo das fronteiras francesas, e a conquista de Paris), colocado o plano em prática, o exército alemão não alcançou tão facilmente seus objetivos.

As forças francesas, ajudadas pelos ingleses, resistiram ao avanço alemão a, aproximadamente, 64km de Paris. Começava uma nova fase da guerra, a chamada guerra de trincheiras.

As trincheiras eram valas abertas com aproximadamente 2,5m de profundidade e 2m de largura, geralmente eram feitas por soldados tanto da Tríplice Entente quanto da Tríplice Aliança. As trincheiras tinham como principal objetivo o ataque e a proteção dos exércitos dos dois blocos.

Durante a Primeira Guerra as trincheiras não foram construídas em linhas retas para garantir maior proteção aos soldados, ao lado de uma trincheira principal eram construídas outras trincheiras para servir de suporte para os soldados: alguns descansavam, outros dormiam e se alimentavam nessas valas de suporte.

As trincheiras protegiam os soldados das batalhas em campo aberto, porém essa proteção não foi tão eficaz, pois várias trincheiras foram atingidas quase sempre por bombas e granadas que explodiam e vitimavam milhares de soldados.

O cotidiano nas trincheiras não era fácil, muitos combatentes morriam com as doenças espalhadas por ratos que dividiam os espaços, os alimentos e a água com os soldados. Quando soldados morriam dentro das trincheiras, muitas vezes não era possível retirá-los, desta forma, vários corpos se decompunham nas valas e o odor se tornava insuportável para os soldados.

O dia a dia dos combatentes dentro das trincheiras foi relatado por diversos soldados que viveram os horrores da Primeira Guerra Mundial:

“A mesma velha trincheira, a mesma paisagem, os mesmos ratos, crescendo como mato, os mesmos abrigos, nada de novo, os mesmos e velhos cheiros, tudo na mesma, os mesmo cadáveres no front,” “A mesma metralha, das duas às quatro, como se sempre cavando, como sempre caçando, a mesma velha guerra dos diabos.”1

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Os relatos dos soldados citados acima expressam mais eficazmente a realidade vivida por eles no front, as experiências angustiantes e dilaceradoras, a rotina, o marasmo: “a mesma paisagem, os mesmos ratos”. Também demonstra a banalização da vida, a morte se torna uma coisa corriqueira: “os mesmos cadáveres no front”.

Os depoimentos e experiências dos soldados que viveram e combateram durante a Primeira Guerra Mundial nos expressa mais fidedignamente a realidade do front, segue relato da experiência do Capitão Edwin Gerard Venning:

“Ainda estou atolado nesta trincheira. (...) Não me lavei. Nem mesmo cheguei a tirar a roupa, e a média de sono, a cada 24 horas, tem sido de duas horas e meia. Não creio que já tenhamos começado a rastejar como animais, mas não acredito que me tivesse dado conta se já houvesse começado: é um questão de somenos.”2

O cotidiano dos soldados nas trincheiras era perpassado por enormes dificuldades, as valas viviam cheias de águas das chuvas que misturavam na terra e formavam os barros que grudavam nas meias e botas dos soldados, geralmente quando os barros secavam nos pés dos soldados, muitos tinham que cortar o couro do pé para conseguir retirar as meias. As febres eram constantes nas trincheiras, as micoses e frieiras.

As dificuldades durante a Primeira Guerra Mundial não foram poucas, milhões de soldados perderam suas vidas dentro das trincheiras e durante a guerra, não importa se eram soldados nazistas, ingleses, franceses, o que importa é que eram vidas que foram perdidas.


[1] A. A. Milne, Combate no Somme apud JUNIOR, Alfredo Boulos. História Geral. Moderna & Contemporânea. Vol. 2. Ensino Médio. São Paulo: FTD, 1997, p. 199.

[2] MARQUES apud JUNIOR, Alfredo Boulos. História Geral. Moderna & Contemporânea. Vol. 2. Ensino Médio. São Paulo: FTD, 1997, p. 200.

 

Por: Mundo Educação

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