Crônica argumentativa

A crônica argumentativa é um texto híbrido que mistura elementos narrativos com a opinião do autor acerca de determinado assunto. Ela é muito comum em jornais e revistas.

A crônica argumentativa é um texto predominantemente jornalístico.
A crônica argumentativa é um texto predominantemente jornalístico.

A crônica argumentativa é um gênero textual pertencente ao domínio do jornalismo em que o autor expõe sua opinião mesclando narrativas e argumentos. A crônica argumentativa é um subgênero/subtipo pertencente ao gênero crônica.

A produção de uma crônica argumentativa envolve a definição de uma temática e uma narrativa que servirá de embasamento para a construção do argumento a ser defendido. Além disso, o texto deve seguir algumas características básicas do gênero crônica, como:

  • abordagem de uma situação cotidiana;

  • uso de uma linguagem simples e direta direcionada ao leitor;

  • apresentação de um texto curto e com informações essenciais para a construção do argumento.

Leia também: Reportagem — outro gênero textual pertencente ao universo jornalístico

Tópicos deste artigo

Resumo sobre crônica argumentativa

  • A crônica argumentativa é um subgênero pertencente ao gênero crônica.

  • Para desenvolver uma crônica argumentativa é preciso seguir a seguinte estrutura: apresentação do tema, desenvolvimento do argumento e desfecho.

  • Diferentemente da crônica narrativa, na crônica argumentativa o autor defende um ponto de vista e propõe uma reflexão a seu leitor.

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Como fazer uma crônica argumentativa?

A crônica argumentativa está muito presente em seções de opinião e colunas de jornais e revistas. Predominantemente um gênero do domínio jornalístico, a crônica argumentativa possui algumas etapas de elaboração importantes a serem cumpridas. A seguir, veja uma lista com o passo a passo para a produção de uma crônica argumentativa.

1) Definição do tema e da narrativa que embase o argumento

Como já foi mencionado, a crônica argumentativa é um texto híbrido. Ela mescla elementos narrativos com argumentos. Sendo assim, o autor precisa ter definido o seu tema, associado ao cotidiano das pessoas, e qual será a construção narrativa para fundamentar sua opinião.

Se o autor pretende, por exemplo, falar sobre relações amorosas contemporâneas, ele pode utilizar uma breve narrativa romântica pessoal ou extraída de filmes ou séries conhecidas para, em seguida, mostrar ao leitor se ele está “de acordo” ou “contra” as formas de amar da atualidade.

Essa primeira etapa corresponde ao planejamento do texto, isto é, a base de sustentação formada pela narrativa e o argumento principal da crônica argumentativa.

2) Início do texto: apresentação do tema

Após planejar e definir o caminho a ser percorrido, o autor inicia o seu texto fazendo uma apresentação do tema. É possível utilizar aqui alguns recursos narrativos ou levar o leitor à reflexão inicial.

3) Desenvolvimento do argumento

Após a apresentação do tema e a inclusão de elementos narrativos para introduzir suas principais ideias, o cronista parte para a próxima etapa: o desenvolvimento da argumentação.

Se na etapa anterior os argumentos permeavam a narrativa, agora eles aparecem de forma mais direta e com mais consistência. É nesse ponto que o autor aprofunda sua argumentação trazendo, se necessário, mais exemplos, reflexões e associações a fim de afetar/atingir o seu leitor.

4) Conclusão/desfecho

Trata-se da última parte do texto. Aqui, há uma retomada das principais ideias defendidas, o que também funciona como um reforço, e o autor faz um encerramento evidenciando o que ele pretendeu defender ou mesmo deixando alguma problematização para que o leitor possa pensar.

A crônica argumentativa não precisa ser necessariamente um texto conclusivo com propostas de solução e convite à ação. O seu encerramento pode trazer elementos literários e filosóficos que deixam uma “pulga atrás da orelha” do leitor, e não necessariamente certezas e convicções.

Leia também: Carta argumentativa — gênero que pretende defender um ponto de vista sobre algo

Exemplo e análise de uma crônica argumentativa

O texto a seguir foi escrito pelo ator e escritor Gregório Duvivier. Ele se chama “O maior gesto do nosso imperador foi um berro, o país já nasceu na gritaria” e foi publicado no jornal Folha de S.Paulo.

Algumas tecnologias vieram pra acabar com o pouco que nos restava de paz. O bluetooth, por exemplo. Não que eu tenha horror a ele, ele é que tem horror a mim. Trata-se de uma tecnologia voluntariosa, cheia de implicâncias, corpo mole e má-vontade — astrólogos dirão que é geminiana.

Responsável por conectar dois aparelhos, o bluetooth faz a ponte quando dá na telha e quando tem química. “Desculpa, mas o encontro do seu Galaxy com sua JBL não deu liga. Estão em momentos diferentes de vida e alegaram incompatibilidade de agenda.”

Acontece inclusive de dois aparelhos serem velhos conhecidos e, do dia pra noite, resolverem fingir que não se conhecem. E às vezes rola o contrário: sua caixinha teve um breve caso de uma noite com o celular do vizinho — mas pro resto da vida ela ficará reconhecendo aquele celular, lembrando dele como um ex que não superou o divórcio.

Existe apenas uma ocasião em que bluetooth é infalível: quando se trata de perturbar o silêncio da vida em comunidade. O advento da caixinha de som acabou com a paz na esfera pública. Já existia uma solução pra quem gostava de ouvir música na rua: o fone de ouvido. A caixinha é uma espécie de fone que todo o mundo à sua volta é obrigado a colocar no ouvido também. Ir à praia se tornou uma experiência enlouquecedora: os Barões da Pisadinha se misturam aos Aviões do Forró, cada um num tom e num compasso, e de repente você está ouvindo os Aviões da Pisadinha.

O autor traz, inicialmente, uma situação cotidiana muito conhecida dos leitores: o barulho excessivo que as tecnologias causam. Há, ainda, a utilização do humor como recurso para gerar empatia nos leitores. A associação da caixinha de som com as misturas musicais é um bom exemplo disso.

Assim, temos a apresentação de uma narrativa, os aparelhos barulhentos e um argumento de que o barulho excessivo atrapalha a vida em comunidade. Essa parece ser a linha argumentativa que Gregório pretende seguir em seu texto.

O problema é que o brasileiro não reconhece o silêncio como um direito. Tenho a impressão de que a caravela de Pedro Álvares Cabral já ancorou por aqui fazendo um furdunço, com o famoso “terra à vista!”. Trezentos anos depois ainda estávamos urrando. Nossa independência, afinal, foi proclamada com um brado, famoso por ter sido retumbante. O gesto mais famoso do nosso imperador foi um berro. Nosso país já nasceu na base da gritaria.

Tivesse Dom Pedro proclamado a Independência com um sussurro, talvez não tivessem ouvido do outro lado do Ipiranga. Mas tenho certeza de que estaríamos em melhores lençóis.

Nessa segunda parte, o autor desenvolve um pouco mais o seu argumento, trazendo uma nova referência: a tese do descobrimento do Brasil. Ele associa a ideia de barulho ao descobrimento do Brasil ao dizer que Pedro Álvares Cabral gritou, nada resolveu e foi embora. O país, segundo o autor, nasceu na gritaria, e esse argumento procura demonstrar justamente que “desde o descobrimento se grita e nada se resolve assim por aqui”.

O imperador gritou, se esgoelou, e foi embora. Na contramão, nosso produto de maior aclamação internacional foi justamente a voz do João Gilberto. Nossa maior contribuição pro mundo, quem diria, é o sussurro. Foi o cochicho que nos levou ao topo das paradas de sucesso. O Brasil é gigante quando fala baixinho. Nossa independência só vai acontecer quando ela for proclamada ao pé do ouvido.

No desfecho, Gregório ressalta novamente que gritar e berrar não resolve problemas. Ele faz um outro paralelo para reforçar seu argumento ao final: compara-se o sucesso de João Gilberto com o fim da gritaria.

Nesse sentido, segundo o autor, para o Brasil avançar, é preciso parar de tentar impor as vontades aos gritos. Em outras palavras, o autor defende que o diálogo, ou melhor, o “falar baixinho”, é a melhor maneira de se adquirir uma verdadeira independência.

Características e estrutura da crônica argumentativa

A crônica argumentativa é um texto curto e de linguagem simples e clara. Por se tratar de um texto predominantemente jornalístico e publicado em um espaço curto nos jornais e revistas, essa crônica deve atentar-se apenas ao essencial.

Ela é também um texto híbrido, isto é, apresenta elementos narrativos mesclados com argumentos. No entanto, deve-se narrar apenas aquilo que é relevante à construção do argumento.

Em resumo, a crônica argumentativa apresenta uma temática de relevância social tendo como ponto de partida narrativas (situações) do cotidiano das pessoas. O objetivo do texto é difundir a opinião do autor sem necessariamente tentar convencer o seu leitor. Por causa disso, não há dados precisos, e sim casos e futilidades cotidianas. Se possível, o texto deve trazer uma problematização/reflexão acerca do tema.

Em nível estrutural, a crônica argumentativa é organizada da seguinte forma:

  • Apresentação: introduz-se aqui o tema a partir de alguma narrativa para ajudar no embasamento do argumento.

  • Desenvolvimento: o autor expõe com mais detalhes e/ou argumentos a sua opinião.

  • Desfecho: faz-se o encerramento amarrando as principais ideias abordadas, podendo haver uma reflexão final para o leitor.

Leia também: Resenha — gênero cuja proposta é apresentar as principais informações de determinada obra

Diferenças entre crônica e crônica argumentativa

A crônica é uma modalidade textual que pode ser dividida em crônica literária, crônica jornalística, crônica esportiva, crônica política, crônica argumentativa etc. A crônica argumentativa é, portanto, um subtipo de crônica.

Uma característica em comum às crônicas (jornalística, esportiva, política, argumentativa) é justamente o fato de se tratarem de textos curtos e que abordam situações do cotidiano. No entanto, em cada um desses subtipos temos formas diferentes de tratar do dia a dia.

A crônica literária (ou narrativa) tem como principal característica uma história cotidiana com personagens, espaço e tempo definidos. Nesse subtipo não há espaço para o desenvolvimento de argumentos e ideias defendidas pelo autor, o que é mais comum em uma crônica argumentativa.

A seguir, observe um breve quadro comparativo entre a crônica literária/narrativa e a crônica argumentativa.

Quadro comparativo das características da crônica argumentativa e narrativa

Por: Rafael Camargo de Oliveira

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