Vícios de linguagem

Vícios de linguagem são termos ou estruturas linguísticas utilizados em discordância com as regras da gramática normativa. Esse uso inadequado pode produzir um efeito desagradável ou ridículo, ou mesmo comprometer o sentido do enunciado.

Assim, podem ser classificados em:

  • ambiguidade ou anfibologia
  • barbarismo
  • cacofonia ou cacófato
  • estrangeirismo
  • hiato
  • colisão
  • eco
  • pleonasmo
  • solecismo
  • preciosismo
  • plebeísmo
  • arcaísmo
  • parequema

Leia também: Silabada – inadequação na produção das sílabas tônicas das palavras

Tópicos deste artigo

Conceito de vícios de linguagem

Os vícios de linguagem podem gerar situações constrangedoras ou mal-entendidos.
Os vícios de linguagem podem gerar situações constrangedoras ou mal-entendidos.

Os vícios de linguagem são expressões ou estruturas linguísticas que não condizem com as normas gramaticais e, não intencionalmente, produzem efeitos desagradáveis ou mesmo ridículos. São, portanto, usos inadequados da língua falada ou escrita, que indicam a falta de atenção do enunciador em relação às regras da norma-padrão.

Desse modo, esse uso caracteriza-se como um vício porque implica a repetição do “erro”, que acaba assumindo, para o enunciador, um falso caráter de correção, já que a inadequação não lhe parece evidente.

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Classificação dos vícios de linguagem

  • Ambiguidade ou anfibologia

Duplo sentido não intencional.

Exemplos:

Atropelaram o cachorro do seu pai.
(O cachorro pertence ao pai ou o pai é comparado a um cachorro?)

Fábio, sua mãe desmaiou quando soube que um ladrão tinha entrado em sua casa.
(O ladrão entrou na casa de Fábio ou na casa da mãe de Fábio?)

  • Barbarismo

Uso equivocado de palavra em relação à pronúncia, à forma ou ao significado.

Exemplos:

Todo mundo sabe que não é possível comer sopa com galfo.
(Uso inadequado da forma “garfo”)

Senhor Beto, coloque sua RUbrica aqui, nesta linha.
(A palavra “rubrica” é paroxítona, portanto, é pronunciada com acento na sílaba “bri”, isto é, ruBRIca.)

Talita é viciada em mingau de maizena.
(A grafia correta é “maisena”, com “z”, refere-se a uma marca registrada dessa farinha de amido de milho.)

Quando chegou à palestra, ficou decepcionado porque os acentos da frente estavam todos ocupados.
(O uso da palavra “acentos”, nesse contexto, não faz sentido, pois ela indica um sinal gráfico. O correto, portanto, é “assentos”.)

  • Cacofonia ou cacófato

Som desagradável, ou sentido ridículo ou obsceno, produzido pela proximidade de palavras.

Exemplos:

Deixe-me já, ou vou reclamar com a direção.
(Deixe-me já = deixe mijar)

Pagarei mil reais por cada informação que me leve ao assassino.
(Por cada = porcada)

  • Estrangeirismo

Uso desnecessário de termo ou estrutura de uma língua estrangeira — galicismo ou francesismo (do francês), anglicismo (do inglês), germanismo (do alemão), castelhanismo ou espanholismo (do espanhol), italianismo (do italiano), latinismo (do latim).

Exemplos:

Me passa o menu e me traz um copo d’água, por favor.
(Menu = cardápio)

O show começa à meia-noite.
(Show = espetáculo)

O curriculum deve estar sempre atualizado, não se esqueça disso.
(Curriculum = currículo)

  • Hiato

Sequência exagerada de vogais idênticas.

Exemplo:

Há ainda a aula da Amália.
(Repetição da vogal “a”)

  • Colisão

Repetição de consoantes iguais ou semelhantes.

Exemplos:

Quem com ferro fere, com ferro será ferido.
(Repetição da consoante “f”)

O rato roeu a roupa do rei de Roma.
(Repetição da consoante “r”)

  • Eco

Ocorrência de rima no texto em prosa.

Exemplos:

O delegado não tinha a intenção de tirá-lo da detenção só porque seu coração era frágil.
(Repetição de “ão”)

O naturalismo é marcado pelo cientificismo, sem falar no positivismo, e fez com que o escritor saísse de seu ostracismo.
(Repetição de “ismo”)

Veja também: Gerúndio ou gerundismo?

  • Pleonasmo

Redundância, isto é, uso desnecessário de palavras.

Exemplos:

Quando meu pai saiu para fora, foi surpreendido pelos agressores.
Decidimos adiar para depois os compromissos com a imprensa.
Conviver juntos é um desafio para todos aqueles que gostam da solidão.

O uso adequado:

Quando meu pai saiu, foi surpreendido pelos agressores.
Decidimos adiar os compromissos com a imprensa.
Conviver é um desafio para todos aqueles que gostam da solidão.

  • Solecismo

Inadequação sintática em relação à concordância, regência ou colocação pronominal.

Exemplos:

→ De concordância:

A gente somos como dois irmãos.
(A gente é como dois irmãos.)

→ De regência:

Liguei a televisão para assistir o jogo.
(Liguei a televisão para assistir ao jogo.)

→ De colocação:

Me preocupa a situação política da Inglaterra.
(Preocupa-me a situação política da Inglaterra.)

  • Preciosismo

Linguagem rebuscada, exageradamente afetada, que se sobressai em detrimento da expressão das ideias.

Exemplos:

Os progenitores do mancebo não sabiam dos obséquios que ele recebeu.
(Progenitores = pais; mancebo = jovem; obséquios = favores)

Meu mais sincero amplexo àquele com quem vivi em contubérnio durante tantos anos.
(Amplexo = abraço; contubérnio = intimidade, familiaridade)

  • Plebeísmo

Uso de expressões populares ou gírias.

Exemplos:

Lindalva pegou ranço da patroa e deu o fora dali.
(Pegou ranço = passou a sentir raiva ou desprezo; deu o fora = saiu)

Deu ruim, ela não quis sair comigo.
(Deu ruim = não foi como esperado)

O ônibus estava cheio pra burro!
(Pra burro = muito)

Acesse também: Quais as diferenças entre a linguagem culta e a linguagem coloquial?

  • Arcaísmo

Uso de termos ou construções linguísticas antigas que estão em desuso.

Exemplos:

Vosmecê poderia chegar às duas da tarde em ponto?
(Vosmecê = você)

Lavei toda a sua roupa, inclusive as suas fétidas ceroulas.
(Ceroulas = cuecas)

  • Parequema

Aproximação de sons silábicos idênticos ou parecidos entre duas palavras.

Ele me disse que estava vazio por dentro.
Aquela parede desabou sobre nós.
Nunca caminhei pela estrada de tijolos amarelos.

Veja também: O que é o internetês?

Exercícios resolvidos

Questão 1 – (Enem)

Art. 2o Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. […]

Art. 3o A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Art. 4o É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. [...]

BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da criança e do adolescente. Disponível em: www.planalto.gov.br (fragmento).

Para cumprir sua função social, o Estatuto da criança e do adolescente apresenta características próprias desse gênero quanto ao uso da língua e quanto à composição textual. Entre essas características, destaca-se o emprego de

A) repetição vocabular para facilitar o entendimento.

B) palavras e construções que evitem ambiguidade.

C) expressões informais para apresentar os direitos.

D) frases na ordem direta para apresentar as informações mais relevantes.

E) exemplificações que auxiliem a compreensão dos conceitos formulados.

Resolução

Alternativa B. Por ser um estatuto, ou seja, ter um caráter de lei, o texto busca palavras e construções que evitem a ambiguidade, pois, nesse tipo de texto, é preciso haver clareza.

Questão 2 – (Enem)

O Brasil é sertanejo

Que tipo de música simboliza o Brasil? Eis uma questão discutida há muito tempo, que desperta opiniões extremadas. Há fundamentalistas que desejam impor ao público um tipo de som nascido das raízes socioculturais do país. O samba. Outros, igualmente nacionalistas, desprezam tudo aquilo que não tem estilo. Sonham com o império da MPB de Chico Buarque e Caetano Veloso. Um terceiro grupo, formado por gente mais jovem, escuta e cultiva apenas a música internacional, em todas as vertentes. E mais ou menos ignora o resto.

A realidade dos hábitos musicais do brasileiro agora está clara, nada tem a ver com esses estereótipos. O gênero que encanta mais da metade do país é o sertanejo, seguido de longe pela MPB e pelo pagode. Outros gêneros em ascensão, sobretudo entre as classes C, D e E, são o funk e o religioso, em especial o gospel. Rock e música eletrônica são músicas de minoria.

É o que demonstra uma pesquisa pioneira feita entre agosto de 2012 e agosto de 2013 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). A pesquisa Tribos musicais — o comportamento dos ouvintes de rádio sob uma nova ótica faz um retrato do ouvinte brasileiro e traz algumas novidades. Para quem pensava que a MPB e o samba ainda resistiam como baluartes da nacionalidade, uma má notícia: os dois gêneros foram superados em popularidade. O Brasil moderno não tem mais o perfil sonoro dos anos 1970, que muitos gostariam que se eternizasse. A cara musical do país agora é outra.

GIRON, L. A. Época, n. 805, out. 2013 (fragmento).

O texto objetiva convencer o leitor de que a configuração da preferência musical dos brasileiros não é mais a mesma da dos anos 1970.

A estratégia de argumentação para comprovar essa posição baseia-se no(a)

A) apresentação dos resultados de uma pesquisa que retrata o quadro atual da preferência popular relativa à música brasileira.

B) caracterização das opiniões relativas a determinados gêneros, considerados os mais representativos da brasilidade, como meros estereótipos.

C) uso de estrangeirismos, como rock, funk e gospel, para compor um estilo próximo ao leitor, em sintonia com o ataque aos nacionalistas.

D) ironia com relação ao apego a opiniões superadas, tomadas como expressão de conservadorismo e anacronismo, com o uso das designações “império” e “baluarte”.

E) contraposição a impressões fundadas em elitismo e preconceito, com a alusão a artistas de renome para melhor demonstrar a consolidação da mudança do gosto musical popular.

Resolução

Alternativa A. A estratégia de argumentação baseia-se na apresentação de resultados de uma pesquisa. No entanto, para excluir a alternativa “c”, é preciso entender que as palavras estrangeiras usadas, no texto, não podem ser uma estratégia para aproximar-se do leitor, uma vez que o leitor é brasileiro, nem têm a intenção de atacar os nacionalistas, pois não se configuram em um vício de linguagem, já que não há expressões na língua portuguesa que substituam tais termos.

Questão 3 – (UEL)

Fonte: Revista Veja, 9 de agosto de 2006, p. 40.

Pelo conteúdo do texto e pelos seus conhecimentos sobre o assunto, é correto afirmar que:

A) Todas as autoridades deveriam agir como o presidente do Irã e o presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, lutando em favor da pureza da língua, eliminando todos os estrangeirismos.

B) Nem todos os estrangeirismos podem ser eliminados de uma língua, mas os presidentes, tanto o do Irã como o da Câmara dos Deputados do Brasil, conseguiram eliminar boa parte deles.

C) É preciso ser “malucão” para ter ideias como as que têm essas duas figuras públicas e assim substituir, com êxito, palavras estrangeiras por outras nacionais.

D) Aldo Rebelo foi um exemplo de patriota, pois, eliminando os estrangeirismos do português do Brasil, está servindo de modelo para o presidente do Irã.

Resolução

Alternativa C. O uso ou não de estrangeirismos não depende desse tipo de decisão política, mas das influências de uma cultura sobre a outra. 

Por: Warley Souza

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