Diferença entre o Candomblé e a Umbanda

Tanto o candomblé quanto a umbanda nasceram no Brasil com influências dos cultos africanos, mas essas duas religiões apresentam grandes diferenças.

Ogum, orixá da metalurgia, da agricultura e da guerra*
Ogum, orixá da metalurgia, da agricultura e da guerra*

A umbanda e o candomblé são duas vertentes religiosas surgidas no Brasil e de origem africana, por isso, são chamadas de religiões afro-brasileiras. Em virtude da escravização dos africanos no Brasil, os povos trazidos à força também trouxeram consigo seus cultos aos orixás (espíritos superiores ancestrais fortemente ligados à natureza).

Tanto a umbanda quanto o candomblé cultuam os orixás, mas cada uma a sua maneira. Essas duas vertentes também mantêm em comum a crença na imortalidade da alma, na reencarnação e na figura de um deus maior, soberano e onipresente, que teria criado os orixás, chamado de Olorum ou Olódùmarè. Apesar de tantas semelhanças, veremos neste texto que essas duas práticas religiosas apresentam também muitas diferenças.

Leia também: Candomblé, uma forma de resistência dos africanos

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Candomblé

Ao contrário do que muitos pensam, o candomblé não nasceu na África, mas sim no Brasil. Como os portugueses e os colonos brasileiros escravizaram nativos de diferentes partes do território africano, a carga cultural trazida com esses povos também foi diversa e multifacetada. O que havia em comum em todos eles era a crença nos orixás, que seriam espíritos ancestrais sagrados e intimamente ligados à natureza, dotados de uma energia divina.

No candomblé, cada orixá possui uma energia e qualidades diferentes. Os candomblecistas cultuam cada orixá de acordo com a sua qualidade. Quando uma pessoa é iniciada no candomblé (ritual equivalente ao batismo cristão), um orixá escolhe-a por afinidade e torna-se o seu guia, processo que é denominado feitura de santo. Cada pessoa passa a ter, a partir de então, o seu “orixá de cabeça”, aquele que acompanha e protege o fiel.

Os cultos do candomblé são, em geral, feitos em forma de agradecimento e pedidos aos orixás, por isso, são ofertadas comidas típicas, músicas (compostas por batuques e cantos entoados nos diferentes dialetos africanos) e dança. Nos cultos do candomblé, não é comum a prática da mediunidade e da incorporação, bem como não são utilizadas drogas, como o fumo e o álcool, para atingir estados de transe.

O transe, quando ocorre nos rituais, advém, segundo os candomblecistas, das energias oriundas dos orixás, que são atraídos pela música e pelas oferendas. Os iniciados na religião entram em transe, dançam e fazem gestos de acordo com os seus orixás de cabeça.

Existem, ao menos, quatro denominações mais gerais de candomblé que variam de acordo com a origem regional do povo que praticou primeiro determinado culto no Brasil. As vertentes são:

  • Ketu, com cantos entoados em dialeto yorubá, originado nos povos nagô;

  • Jeje, com cantos entoados em dialeto fon, originado nos povos jeje;

  • Bantu, com cantos entoados no dialeto bantu bacongo, originado nos povos angolanos;

  • Caboclo, junção do culto às entidades africanas com a crença nos espíritos cultuados pelos povos indígenas.

A vertente do candomblé também influencia a crença aos orixás. São, em geral, dezesseis ou vinte orixás cultuados, mas esse número pode variar. Por razões históricas, a crença nos orixás sofreu algum sincretismo com a devoção aos santos católicos. Isso ocorreu porque, no período colonial brasileiro, quando o catolicismo era a religião oficial do Império português e, consequentemente, da colônia, qualquer culto pagão era proibido. Para driblar o sistema e cultuar os orixás, os escravos desenvolveram um sistema de código que associava cada orixá a um santo católico. Por isso, Iemanjá está relacionada à imagem de Nossa Senhora da Conceição; Ogum, a São Jorge; Xangô, a São João; e Oxalá (o orixá que, na mitologia africana, teria criado a humanidade), a Jesus Cristo.

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Esse sincretismo feito por necessidade pelo candomblé é assumido e mais evidente na umbanda, que se autodenomina um misto de candomblé, espiritismo e catolicismo. Os sacerdotes do candomblé são chamados de Babalorixá (caso seja um homem) ou Yalorixá (caso seja uma mulher).


Umbanda

A umbanda é uma religião sincrética surgida da mistura da mitologia africana, que cultua os orixás, do catolicismo, das crenças indígenas aos espíritos da natureza e do espiritismo kardecista. Ela surgiu pela primeira vez em 1908, por meio do médium Zélio Fernandino, que teria começado a apresentar um comportamento estranho quando estava prestes a entrar para a Marinha. Sua família, sem entender o ocorrido, procurou ajuda médica, até que levaram o jovem à Federação Espírita Brasileira, que identificou em Zélio sintomas de incorporação.

O jovem médium havia supostamente incorporado um espírito que se denominava Caboclo das Sete Encruzilhadas. Conta Ademir Barbosa Júnior1, um estudioso da umbanda, que o suposto espírito disse ter sido um padre em Lisboa acusado de bruxaria e morto na fogueira pelo Tribunal da Santa Inquisição de Lisboa em 1761. Após o ocorrido, ele teria reencarnado no Brasil como um caboclo. O espirito teria anunciado a fundação de uma nova religião, a umbanda.

A umbanda mantém a crença nos orixás como espíritos iluminados que passam as energias da natureza. Também trouxe elementos do espiritismo kardecista, como a mediunidade e a incorporação de espíritos. A energia dos orixás é aproximada pelo contato com as entidades, que são espíritos mais experientes e que fazem os chamados trabalhos (parte do ritual umbandista) nos terreiros. As entidades cultuadas pela umbanda são:

  • Exus e pombagiras: na mitologia africana, o exu é um orixá mensageiro. Na umbanda, o exu é uma entidade mensageira dos orixás (exu é o masculino, e pomba gira, o feminino). Em nossa cultura ocidental, há um equívoco na interpretação dessas entidades, pois algumas vertentes cristãs, principalmente as neopentecostais, associaram Exu ao demônio;

  • Caboclos: são espíritos de índios sábios, guerreiros e curandeiros (pajés), como o Caboclo das Sete Encruzilhadas;

  • Pretos-velhos e pretas-velhas: espíritos de escravos e escravas brasileiros, velhos e sábios, que entendem das relações pessoais e de cura;

  • Erês (crianças): espíritos de crianças puras e alegres e que se comportam como tais. Gostam de doces e, apesar da pureza, não são ingênuas, mas também dotados de alguma sabedoria que os permite identificar quem é puro e quem é mal-intencionado;

  • Baianos, marinheiros, malandros e boiadeiros: são entidades das chamadas linhas auxiliares, ou linhas secundárias. Essas entidades não aparecem em todas as vertentes da umbanda, mas apenas em algumas regiões (a umbanda sofre diferenças de acordo com a localidade em que o terreiro está situado).

Em virtude da forte influência cristã, a umbanda acredita que a caridade e a prática do bem são as fontes da evolução espiritual. O sacerdote ou a sacerdotisa responsável por um terreiro de umbanda é chamado de Pai de Santo ou Mãe de Santo.

1 BARBOSA JÚNIOR, Ademir. Novo Dicionário de Umbanda. São Paulo: Universo dos Livros, 2014.

Por: Francisco Porfírio

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